quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Vidro e abismo, Castanhas na mão...

Olá pessoal, o tema sobre o qual eu vou falar nesse post mexe bastante comigo. Tenho enxergado algumas situações que me incentivaram a escrever esse texto e aumentaram minha atitude de reflexão. Aviso a vocês que enxergar é diferente de ver. Quando vemos não prestamos atenção, nosso cérebro não investiga o que certa paisagem ou pessoa significa no momento, apenas analisa rapidamente e armazena a situação. Quando enxergamos é diferente: percebemos o verdadeiro significado seja lá o que estiver acontecendo na sua frente. Peço aos meus poucos leitores que daqui em diante não apenas vejam o mundo de forma natural. Enxerguem as injustiças e desigualdades. Neste momento eu estou no meu quarto com o ar condicionado ligado, protegido do nosso perigoso mundo e , provavelmente, outro adolescente esteja nas ruas sendo vítima das drogas e violência.



Ok, vamos lá!!



Em Janeiro viajei para o Nordeste, mais especificamente para os estados de Rio Grande do Norte, Recife e Alagoas. Numa dessas cidades o carro em que eu estava parou num sinal de trânsito em alguma avenida qualquer. De forma inesperada apareceu um menino que aparentava uns doze anos pelo aspecto físico, mas em termos de maturidade poderia ter uns vinte. Pediu um trocado e nada mais. Naquele momento o que aparentemente me separava do garoto era apenas o vidro do carro. Há muitos pedintes em cruzamentos e esquinas, mas o garoto tinha algo diferente que me fez enxergá-lo de outra forma.


Pensando depois no que havia ocorrido fiz uma retomada dos meses anteriores e das conversas que escutei . Na minha festa de formatura ouvi alguns oradores e colegas falando que somos vitoriosos e batalhadores. Sinceramente, não me sinto vitorioso. Encarar vestibular ou estudar 16 anos na vida não é uma guerra e sim um privilégio, e de poucos. Graças ao aconchego do meu lar, da estabilidade financeira da minha família e do carinho e proteção que recebi de meus pais consegui algumas conquistas. Tudo isso é fruto das OPORTUNIDADES que tive.



Acredito que a vida de cada pessoa é marcada por quantas OPORTUNIDADES teve. Sim, é claro que tem pessoa que não aproveita as opotunidades surgidas. Mas os outro que nem oportunidades tiveram? Aqueles que não puderam estudar, brincar e ser vitoriosos na vida (como nas conversas que escutei) o que acontece com eles?



Bem, a resposta pra essa última pergunta pode ser respondida pela imagem no trânsito que eu vi. Jovens vão para as ruas, tornam-se pedintes ou na pior das situações ficam presos a um vício.

Exalto com todo respeito os verdadeiros vitoriosos e batalhadores. Jovens que mesmo vivendo em locais marcados pela violência e o vício, não se corrompem, tentam sustentar a família e lutam para permanecer na escola. Esses sim merecem destaque. Mesmo sem enxergar oportunidades no seu horizonte, seguem o caminho estreito e difícil da vida ética.



Um desses jovens é o Antônio( não é nome fictício). Na verdade já o conhecia de vista antes de saber seu nome. Certo sábado de manhã peguei um ônibus e fui pra escola. Sentei numas cadeiras atrás de Antônio e comecei a repará-lo. Seus chinelos velhos e rasgados, um olhar triste, a roupa um pouco encardida e com algumas castanhas na mão pra vender....Confesso que fiquei com nojo de mim mesmo, não gosto de comparações e era justamente o que eu estava fazendo. Mas ao enxergá-lo daquela forma tentei imaginá-lo na minha situação. Será que ele não estaria mais feliz que eu em estudar em pleno sábado? Será que ele gostava de estudar como eu?

Talvez sim, talvez não....o que importa é que ele não teve oportunidades. Soube de sua estória pela minha vizinha: o padastro proibiu o seu estudo, obrigou a trabalhar e ainda fica com todo seu dinheiro. A culpa por ele estar assim é minha? é nossa? Sou muito ingênuo pra responder essa pergunta, mas espero que um dia possa ajudá-lo.

Por fim....para muitos o que estaria me separando do garoto do trânsito seria apenas o vidro do carro, mas pra mim o que nos separa é um abismo de diferenças.Diferenças que marcam o nosso mundo.

Se ao invés de livros eu estivesse com castanhas na mão, minha vida poderia ser diferente, meus privilégios não seriam os mesmos e nesse momento estaria procurando o meu sustento nas ruas.

Então, como conselho de amigo peço que aproveitem as oportunidades, nosso bem-estar, nossas capacidades para que possamos mudar o futuro e atenuar as desigualdades

Não vejam, mas ENXERGUEM.....





4 comentários:

  1. Passei por aqui, mas preciso comentar:

    Achei interessante os relatos verídicos.

    Infelizmente, penso que o princípio das diferenças está no berço.
    É fato que não escolhemos a família e, tão pouco, a condição social dos nossos pais.
    Entretanto, podemos aceitar o destino que nos é posto à mesa se nos tornarmos apáticos às circunstâncias que a vida nos impõe.
    Há, sim, possibilidade de mudarmos esse quadro de debilidade na posição social. Com afinco, temos o poder de transformar a educação em um elevador potencial, que nos pode conceder acessibilidade à ascenção social.

    Conheço muitas histórias de pessoas que conseguiram dar a volta por cima, em vista do sucesso que obtiveram com a escalada por meio do estudo.

    Temos, deveras, é que dar valor à oportunidade concedida por nossos pais/família e fazer valer a pena o estímulo que estes dão a fim de que nos tornemos verdadeiras pessoas.

    Façamos então, por intermédio do conhecimento, um mundo mais igual e com chances repartidas uniformemente a todos.
    Afinal, se nós podemos, por que os menos beneficiados economicamente não podem?

    Clelton Aguiar.
    Abraço, Ruan

    ResponderExcluir
  2. Clelton, obrigado por comentar primeiramente.
    Fico feliz em saber que existem pessoas como você...como expliquei, esse tema me aflige bastante e penso que num futuro próximo nosso conhecimento adquirido e o humanismo possam mudar a triste situação com que convivemos..
    abraço

    ResponderExcluir
  3. -Por vezes cheguei a pensar como voce Mas me questionei diversas vezes o motivo que os faria estar ali naquela situaçao, sera falta de oportunidade ou sera o desperdicio dessas oportunidades? Conheço historias que dividem minha opiniao: Pessoas que tem oportunidades mas que nao deram tal valor,e porem outras que nao tiveram e sofrem ainda as consequencias da vida . Em qualquer das situaçoes o sentimento de pena desperta em mim e tento olhar com mais atençao e tentar aproveitar com prazer as oportunidades que a vida me oferece!
    Bsitos Ruan^^
    P,S: Me fez refletir!__*

    ResponderExcluir
  4. Excelente post, principalmente na parte em que tu criticas os oradores da formatura por dizerem que nos formandos somos batalhadores. É realmente bem louvável o fato de tu saberes enxergar os verdadeiros batalhadores desse mundo. Eu me sentia um batalhador, mas depois que li esse teu post, vi que minha vida é muito fácil e que minhas conquistas são fruto dos esforços de meus pais.

    Adorei esse post, realmente instiga bastante à reflexão.

    Abraço ae.

    ResponderExcluir