Olá pessoal, o tema sobre o qual eu vou falar nesse post mexe bastante comigo. Tenho enxergado algumas situações que me incentivaram a escrever esse texto e aumentaram minha atitude de reflexão. Aviso a vocês que enxergar é diferente de ver. Quando vemos não prestamos atenção, nosso cérebro não investiga o que certa paisagem ou pessoa significa no momento, apenas analisa rapidamente e armazena a situação. Quando enxergamos é diferente: percebemos o verdadeiro significado seja lá o que estiver acontecendo na sua frente. Peço aos meus poucos leitores que daqui em diante não apenas vejam o mundo de forma natural. Enxerguem as injustiças e desigualdades. Neste momento eu estou no meu quarto com o ar condicionado ligado, protegido do nosso perigoso mundo e , provavelmente, outro adolescente esteja nas ruas sendo vítima das drogas e violência.
Ok, vamos lá!!
Em Janeiro viajei para o Nordeste, mais especificamente para os estados de Rio Grande do Norte, Recife e Alagoas. Numa dessas cidades o carro em que eu estava parou num sinal de trânsito em alguma avenida qualquer. De forma inesperada apareceu um menino que aparentava uns doze anos pelo aspecto físico, mas em termos de maturidade poderia ter uns vinte. Pediu um trocado e nada mais. Naquele momento o que aparentemente me separava do garoto era apenas o vidro do carro. Há muitos pedintes em cruzamentos e esquinas, mas o garoto tinha algo diferente que me fez enxergá-lo de outra forma.
Pensando depois no que havia ocorrido fiz uma retomada dos meses anteriores e das conversas que escutei . Na minha festa de formatura ouvi alguns oradores e colegas falando que somos vitoriosos e batalhadores. Sinceramente, não me sinto vitorioso. Encarar vestibular ou estudar 16 anos na vida não é uma guerra e sim um privilégio, e de poucos. Graças ao aconchego do meu lar, da estabilidade financeira da minha família e do carinho e proteção que recebi de meus pais consegui algumas conquistas. Tudo isso é fruto das OPORTUNIDADES que tive.
Acredito que a vida de cada pessoa é marcada por quantas OPORTUNIDADES teve. Sim, é claro que tem pessoa que não aproveita as opotunidades surgidas. Mas os outro que nem oportunidades tiveram? Aqueles que não puderam estudar, brincar e ser vitoriosos na vida (como nas conversas que escutei) o que acontece com eles?
Bem, a resposta pra essa última pergunta pode ser respondida pela imagem no trânsito que eu vi. Jovens vão para as ruas, tornam-se pedintes ou na pior das situações ficam presos a um vício.
Exalto com todo respeito os verdadeiros vitoriosos e batalhadores. Jovens que mesmo vivendo em locais marcados pela violência e o vício, não se corrompem, tentam sustentar a família e lutam para permanecer na escola. Esses sim merecem destaque. Mesmo sem enxergar oportunidades no seu horizonte, seguem o caminho estreito e difícil da vida ética.
Um desses jovens é o Antônio( não é nome fictício). Na verdade já o conhecia de vista antes de saber seu nome. Certo sábado de manhã peguei um ônibus e fui pra escola. Sentei numas cadeiras atrás de Antônio e comecei a repará-lo. Seus chinelos velhos e rasgados, um olhar triste, a roupa um pouco encardida e com algumas castanhas na mão pra vender....Confesso que fiquei com nojo de mim mesmo, não gosto de comparações e era justamente o que eu estava fazendo. Mas ao enxergá-lo daquela forma tentei imaginá-lo na minha situação. Será que ele não estaria mais feliz que eu em estudar em pleno sábado? Será que ele gostava de estudar como eu?
Talvez sim, talvez não....o que importa é que ele não teve oportunidades. Soube de sua estória pela minha vizinha: o padastro proibiu o seu estudo, obrigou a trabalhar e ainda fica com todo seu dinheiro. A culpa por ele estar assim é minha? é nossa? Sou muito ingênuo pra responder essa pergunta, mas espero que um dia possa ajudá-lo.
Por fim....para muitos o que estaria me separando do garoto do trânsito seria apenas o vidro do carro, mas pra mim o que nos separa é um abismo de diferenças.Diferenças que marcam o nosso mundo.
Se ao invés de livros eu estivesse com castanhas na mão, minha vida poderia ser diferente, meus privilégios não seriam os mesmos e nesse momento estaria procurando o meu sustento nas ruas.
Então, como conselho de amigo peço que aproveitem as oportunidades, nosso bem-estar, nossas capacidades para que possamos mudar o futuro e atenuar as desigualdades
Não vejam, mas ENXERGUEM.....